Na imensidão dos rios amazônicos, especialmente no Estado do Acre, circula uma das mais temidas e respeitadas lendas indígenas: a da Cobra Grande, também conhecida como Boiaçu (do tupi “mboîa” = cobra, “açu” = grande).
Segundo os povos tradicionais, a Boiaçu é uma cobra gigantesca, com escamas que brilham como ouro molhado e olhos de fogo. Dizem que seu corpo pode se estender por quilômetros, confundindo-se com troncos à deriva ou curvas dos rios.
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A Origem
Reza a lenda que a Boiaçu nasceu de uma cobra comum que cresceu após alimentar-se de um espírito da floresta. Com isso, adquiriu poderes sobrenaturais: controla a água dos rios, muda o curso das correntezas, provoca tempestades e maremotos, e aparece para punir aqueles que desrespeitam a natureza ou os povos da floresta.
Algumas versões dizem que a Cobra Grande é protetora dos rios e dos peixes, mas também é vingativa. Se um pescador pesca em excesso, joga lixo no rio ou maltrata os animais, a Boiaçu pode vir à tona e engolir sua canoa inteira, arrastando o culpado para as profundezas lamacentas do rio.
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Os Encontros
Há quem jure ter visto sua cabeça surgir como uma ilha. Outros contam que, durante tempestades repentinas, ela se enrosca nos pilares das pontes para derrubá-las. Às vezes, em noites de lua nova, dizem que a Boiaçu sobe a margem do rio, deixando marcas profundas no barro.
Alguns povos acreditam que ela pode se transformar em mulher para enganar viajantes ou assumir a forma de um tronco boiando para surpreender canoas descuidadas.
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Simbolismo
Para as culturas indígenas, a Boiaçu representa a força ancestral da natureza que não tolera desrespeito. É o equilíbrio entre o castigo e a proteção.
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“Quem respeita o rio, passa; quem desafia a mãe d’água, desaparece.”
Essa é a lenda da Cobra Grande — uma força viva dos rios do Acre, guardiã silenciosa da floresta e dos seus mistérios.